mercredi 17 mars 2010

Fait divers et Littérature


Neste ano de 2010 o concurso da Campus France para comemoração do dia da Francofonia - 20 de março - é um fait divers que contenha as 10 palavras francófonas: "baladeur / crescendo / escagasser / remue-méninges / mentor / zapper / cheval de Troie / mobile / galère / variante".
Lembro a vocês que grandes obras da literatura nasceram de fait divers. Este termo designa, no meio jornalístico, notícias do cotidiano, curiosidades, fatos pitorescos. E a partir do fait divers sobre a história do Senhor Delamare, médico na cidade francesa de Ry, do qual a mulher infiel acabou por se envenenar e ele morreu, em seguida, de desgosto, nasceu a semente, o tema, para um dos maiores livros de todos os tempos: Madame Bovary de Gustave Flaubert.
Para Flaubert (1821-1880) a única responsabilidade do autor é para com a forma da obra, o seu estilo; o tema pode ser qualquer um. Claro que para este escritor nunca nada é qualquer um, pois ele conhece o universo sobre o qual se debruça, cria empatia com as personagens miméticas do real e com o leitor. Entretanto, ao seguir esse pensamento voltado para a forma torna-se possível fazer uma obra com apreço narrativo a partir de um fato do cotidiano.
O período em que Madame Bovary foi publicado, ano de 1856, era uma época de grande censura na França devido ao Imperador Napoléon Troisième, que ficou no posto de 1851 até 1870. No ano seguinte outro grande livro, que foi perseguido pela censura, foi publicado: Les fleurs du mal de Charles Baudelaire e no Brasil, em 1856, era publicado O Guarani de José de Alencar. No Brasil entrávamos no Romantismo e na França já estávamos no Realismo e no Modernismo, respectivamente com Flaubert, Baudelaire e outros autores.
A partir de Victor Hugo a arte se integra ao banal; nosso grande escritor Romântico, que viveu de 1802 a 1885, publicou entre outras obras Notre Dame de Paris (1831) e Les Misérables (1862). Ele revolucionou a literatura e abriu as portas para muitos.

Com esta reflexão desejo que pensem como a Arte nasce do cotidiano, como esse exercício pode ser feito por cada um de nós e espero que vocês sintam-se motivados a escrever seus textos. Marcel Proust nos mostra em À la recherche du temps perdu como a obra de arte é maior do que os temas e os modelos. O trabalho do Artista é traduzir em arte o que já existe em todos nós e no nosso dia a dia. Portanto estamos repletos de temas para a Arte, agora é traduzir nas diversas linguagens: literária, musical, plástica o que nos toca. É tornar geral uma situação singular, como escreve Proust: "...rien ne peut durer qu'en devenant général..." (Le Temps Retrouvé. Page 212) É tornar a vida imortal, refletir sentimentos da humanidade.
Pensem, de um simples fait divers Flaubert nos trouxe seres tão imortais como Emma e Charles Bovary.

-Mãos a obra!

Angelina.

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