lundi 10 avril 2023

Joyeuses Pâques

Para a Páscoa de 2023 havia primeiramente projetado um texto sobre a lealdade, a responsabilidade e a responsabilização, as quais são muito diferentes do suposto perdão, esse colocaria um ser com mais poder do que outro, abriria para supostas categorias diferentes de humanos, com a imaginária capacidade de dar o presente da desculpabilização a homo sapiens menos humanos-humanizados, do que viria o perdão que não move e nem comove (comover = mover junto). Quando, na verdade, somos todos falíveis. E ao invés do perdão podemos trazer a responsabilização, ainda mais se os fatos em questão forem calúnias, difamações e/ ou agressões dos mais diversos tipos. Para tudo a responsabilização vem como algo para o crescimento de todos. Havia pensado também em discorrer sobre o valor francês, tão caro, de mantermos nosso esprit ouvert (espírito aberto), isso nos ajuda a enxergar com olhar aberto e crítico e chegarmos a maior perspectiva. Também havia pensado em falar sobre o tão querido artista-engenheiro-arquiteto Flávio de Carvalho, o qual a partir de suas extraordinárias leituras de Freud e de toda a sua criatividade fez happenings em procissões, vestido de saia, em um momento tão ou mais preconceituoso do que os tempos atuais, e como um dos resultados Flávio foi perseguido por pessoas que se diziam tão tranquilas. O que moveu essa perseguição a um ser que estava vulnerável e sem apresentar perigo algum? Talvez Hannah Arendt em a “Banalidade do mal” nos traga algumas pistas. Havia pensado, também, em colocar no texto a importância dos valores de responsabilidade, lealdade, honra e respeito a todos os seres e como eles nos permitem maior lucidez do que a ideia de perdão. Lembraria a todos de que os níveis de compreensão variam, mesmo entre as pessoas que se consideram mais próximas aos fatos, pensemos em Flávio de Carvalho nas procissões. E acrescentaria o fato de que há narrativas manipuladoras. Um dos antídotos para melhor compreensão continua em nossa ouverture d’esprit (abertura de espírito). Inclusive para que a ideia de Páscoa, do renascer a cada dia melhor, se faça real. Entretanto, às vezes, a palavra pode ser excessiva. Por isso coloco simplesmente aqui uma foto de um trecho do texto “O silêncio das sereias”, do querido Kafka . As sereias são as da Odisséia, as quais no Canto XII teriam motivado Ulisses, o Odisseu, a colocar cera nos ouvidos para se proteger do seu canto. Mas Kafka nos traz a possibilidade de que as sereias não cantaram. Com ele invertemos nosso olhar, como nas invertidas da yoga, e desvelamos uma possibilidade extraordinária: o silêncio que preenche. Como na arquitetura indiana na qual se valoriza tanto ou mais os espaços vazios do que as paredes. Enxergar de outra forma, manter o espírito aberto ao desvelar, como o ser que foi acompanhado pela tão sábia Deusa Atena, nosso Ulisses, o Odisseu: “... Diz-se que Ulisses era tão astucioso, uma raposa tão ladina, que mesmo a deusa do destino não conseguia devassar seu íntimo. Talvez ele tivesse realmente percebido - embora isso não possa ser captado pela razão humana - que as sereias haviam silenciado e se opôs a elas e aos deuses usando como escudo o jogo de aparências acima descrito. Tradução de Modesto Carone” Sigamos no nosso renascer diário, com notre esprit ouvert , ao lado de seres leais e íntegros. Existe muito mais riqueza e potência em cada um do que se imagina. Apesar das injustiças, guerras e tudo mais de terrível, faço minhas as palavras de Freud para Einstein em “Por que a guerra?” e APOSTO nos seres humanos. Desejo a todos, com a consciência do tempo do Tempo, a coragem do cultivar e do florescer diário de si . - Joyeuses Pâques . Feliz Páscoa. Para o nascimento dessa pequena reflexão obrigada de coração a: Bárbara Nanci de Souza, Fabi Fabiana Catanzaro, Fábio Hideaki Shibata, Lívia Molina, Natália Mello, Carmen Aranha, Gracinda Gazolla, Suelen Daiane, Renê Trindade, Luciano Abbamonte, Ana Paula Maia, Carmen Ferrer, Rodrigo Nascimento, Marina Sena, Marcelo Fukuda, Daniela Ferreira, Camila Puertas, Renata Caland-Marshall, Cinthia Yamasaki, Márcio Fukuda, Pedro Medeiros, Vinícius Linné e o tão amado Prof Sylvio Coutinho, in Memorian, seguimos vivos nos viventes. PS : na primeira foto um trecho de “O silêncio das sereias” e nas duas fotos seguintes uma sereia criança, em silêncio, com seu astucioso pai .
Angelina Corrêa Renard

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